EL PAÍS - transcrito pelo O Globo em 20/03/2014
MADRI — Ele sabia tudo sobre heróis. Na verdade, inventou gerações inteiras de grandes guerreiros, assim como orcs, elfos, anões e outras criaturas fantásticas. Mas antes de escrever as suas obras-primas, "O hobbit" e "O Senhor dos Anéis", J.R.R. Tolkien se envolveu com um herói que já existia. Mais especificamente, um dos mais famosos da história da literatura britânica: Beowulf. Há 90 anos o autor traduziu este poema épico do século XI, o mais longo do inglês antigo, como informou o jornal "The Guardian". Mas a sua versão de "Beowulf" nunca foi publicada. Até agora. No próximo dia 22 de maio verá a luz no Reino Unido, após um acordo entre Christopher Tolkien, filho do grande romancista, e a editora HarperCollins.
Além de escritor, Tolkien (o pai) foi professor de inglês antigo. E terminou a tradução de "Beowulf" em 1926. No entanto, "parece que nunca planejou editá-la", pelo menos é o que o conta o filho na apresentação da publicação. "Beowulf: A translation and commentary" incluirá ainda uma série de palestras que Tolkien ofereceu sobre a obra nos anos 1930, além de seu conto "Sellic spell". O autor morreu em 1973, deixando muito material incompleto e não editado, e que o filho tem publicado, gradualmente, ao longo dos últimos anos.
Entre outras coisas, "Beowulf" foi alvo de um debate secular entre filólogos. A questão se concentra na primeira palavra do manuscrito, "Hwæt". "Ouve"? "Escuta"? "Então"? "Atenção"? O "Guardian" relata que nada se disse na reunião desta quarta-feira a respeito de como Tolkien solucionou o mistério. Será preciso esperar até maio.
"Beowulf" narra a história do príncipe homônimo, de como ajudou o rei dinamarquês Hroogar e derrotou um mostro chamado Grendel e sua mãe, antes de uma baralha final contra um dragão. A obra sobreviveu em um único exemplar, que hoje em dia pertence à Biblioteca Nacional do Reino Unido, e inspirou, durante os séculos seguintes, centenas de interpretações e romances. Entre o material mais recentes está o longa de Robert Zemeckis, de 2007.
O autor de "O Senhor dos Anéis" adorou "Beowulf". "Teve um grande impacto sobre o que Tolkien escreveu, desde os seus primeiros poemas sobre a Terra Média, de setembro de 1914", garantiu ao "The Guardian" John Garth, autor do livro "Tolkien and the Great War". O escritor britânico considerava "Beowulf" como uma obra "carregada de história, sombria, trágica, sinistra e curiosamente real".
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