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Blade Runner Blues 1 - Philip K. Dick, o viajante do espaço-tempo





Gosto muito de Philip K. Dick e, já contei noutra postagem, não foi por causa de ‘Blade Runner – O caçador de Androides’, mas por causa do conto 'We can remember it for you wholesale’, transformado no filme ‘O Vingador do Futuro’ em 1990 (Clique aqui). 


Sabe-se lá porque nossos nomeadores de filmes resolveram traduzir o título do filme de ‘Total Recall’ para ‘Vingador do Futuro’, mas o dublê de Governador Arnold Sopa de Letrinhas até que deu conta do recado.

Mas eu quero é falar de ‘Blade Runner’ porque eu vi - mais uma vez - a versão de 2007 ‘The Final Cut’ e fiquei, mais uma vez intrigado com a tradução daquilo que é inspirado em Philip K. Dick.


Para quem não é Nerd ou prefere Saramago, vou explicar: Sir Ridley Scott ficou muito chateado quando ‘Blade Runner’ foi lançado em 1982, porque a Warner Brother cismou que os meros mortais não iriam entender (e pagar para ver o dito filme) e colocou outro final em Blade Runner - retirado do filme ‘O Iluminado’ - cortou várias cenas e ainda escalou o Harrison Ford gripado para fazer a narração das partes mais complicadas. O resultado todos sabem: até a peixinha Dory gostou. 


Mas, depois disso Sir Ridley Scott brigou para restabelecer parte dos seus planos originais e, acabou que  Blade Runner teve, pelo menos, seis versões desde seu lançamento em 1982 até que Scott obtivesse controle total sobre a edição da película, no caso, a versão chamada 'The Final Cut', lançada em 2007. 

O xodó dos nossos tradutores é uma das cenas antológicas de ‘Caçador de Androides’ (aliás ‘Do Androids Dream of Electric Sheep?’ é título do conto de Philip K. Dick).
Rutger Hauer, interpretando o androide Roy Batty se despede da vida dizendo:



I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhäuser Gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.


Eu vi coisas em que vocês não iriam acreditar. Naves de ataque em chamas ao lado de Betelgeuse. Eu vi raios de césio rasgarem a escuridão próximo ao Portal de Tannhäuser. Todos estes momentos irão se perder no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer.

É para qualquer um ficar arrepiadinho, inclusive a Dory!


Vamos lá: ‘Shoulder of Orion’ = o ‘ombro’ da constelação de Orion – os antigos imaginavam seres mitológicos juntando as estrelas umas às outras e, nomeavam as Constelações. A estrela Betelgeuse estaria, portanto no ‘ombro' de Orion (veja a imagem abaixo).





‘C-beams’ = abreviação de 'Cesium Beans', arma de destruição estelar bastante citada nos livros de ficção científica. Para poder observar o cintilar - o flash desta arma -, o androide Roy Batty teria que estar na frente de batalha!


Tannhäuser Gate = Portal de Tannhäuser, uma espécie de ‘buraco de minhoca’, um atalho no espaço-tempo, crucial para a geopolítica sideral e onde aconteceu uma grande batalha, citada pelo roteirista David People noutro filme – ‘Soldier’. 


Ray Batty viveu intensamente, foi além de qualquer possibilidade humana e clamava por mais vida, por poder dizer sua História, a sua Experiência, os seus lugares.


O grande barato é que isto é completamente Philip K. Dick – o viajante do espaço-tempo, mas nenhuma dessas palavras e nem mesmo a cena da morte de Roy Batty estavam no seu livro. Apenas em ‘Blade Runner’.


Na próxima postagem eu explico (e ainda mostro a tradução das legendas brasileiras)! (Clique aqui para ler)


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Publicado em 19/02/2017.
Editado em 24/02/2017: (1) Troquei a imagem do cartaz do filme Blade Runner, porque erroneamente postei o cartaz de 'Director's Cut' em vez de 'Final Cut', a origem desta postagem. (2) Inseri um link para a postagem em que comento 'We can remember it for you wholesale’. (3) Melhorei a tradução da fala derradeira de Rutger Hauer, mantendo o foco de afastá-la da literalidade.
Editado em 04/03/2017: (4) Renomeei a postagem para Blade Runner Blues 1 - Philip K. Dick, o viajante do espaço-tempo, de modo a poder continuá-la. .

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