Amigos,
Essa é uma lição que devemos aprender. falta de revisão dos resultados, foco de pesquisa superdimensionado, objeto fora de domínio, questões mal colocadas ou mal feitas.
Foi um dos maiores erros cometidos por pesquisadores no Brasil e que retirou muito da credibilidade que o IPEA possuía.
Pior, os resultados da pesquisa foram um dos principais assuntos da mídia nacional até a admissão do erro e tiveram uma boa repercussão no exerior.
Vejam abaixo o que os ex-diretores da Instituição comentaram.
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Para ex-diretores do Ipea, erro foi ‘grotesco’ e órgão perdeu o foco
Cristina Tardáguila - O Globo (Email · Facebook · Twitter)
Publicado: 5/04/14 - 6h00
Atualizado: 5/04/14 - 8h52
RIO — Depois de o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) anunciar que havia se equivocado na divulgação dos resultados da polêmica pesquisa sobre violência contra a mulher, ex-diretores do órgão e especialistas em pesquisas de opinião se debruçaram sobre o assunto e deram duros vereditos sobre o caso. Para Edson Nunes, que foi vice-presidente executivo do órgão entre 1985 e 1994, o Ipea pode ter cometido esse “erro grotesco e banal” porque trabalhou “fora de seu foco”.
— Esse erro que acabaram de anunciar é grotesco e banal. É lamentável — disse Nunes, classificando a entidade como sendo uma das “de mais alta lisura e resistência” do país: — Uma pesquisa desse tipo tem que passar por muitas mãos e ser fartamente revista antes de ser divulgada. Então, o primeiro ponto a ser apontado aqui é que a respeitabilidade do Ipea sofre muito com essa falha. Depois, que esse erro tem muito a ver com o trabalho em si. O Ipea não tem a tradição de fazer pesquisas de opinião. No Brasil, temos meia dúzia de entidades que fazem esse trabalho muito bem: o Ibope, o Datafolha, o Vox Populi... O Ipea trabalha com dados econômicos e parece que está fora de seu foco.
Nunes, que diz não ter memória de um desmentido desse porte no país, também critica a escolha do tema que foi pesquisado. Para ele, o assunto não estaria na seara de domínio dos pesquisadores do Ipea:
— Essa escolha foi péssima, e o resultado agrediu homens e mulheres. Tanto foi assim que todo mundo do ramo ficou com uma pulga atrás da orelha depois de ouvir os resultados da pesquisa e acabou indo atrás da metodologia deles para ver onde tinham errado. Mas, esse erro aí, nós nunca pegaríamos. Eles trocaram a pergunta 23 com a pergunta 24, e os resultados saíram trocados.
A deputada estadual Aspásia Camargo (PV-RJ), que presidiu o Ipea entre 1993 e 1995, também lamentou o erro cometido e revelado pelo instituto.
— Certamente o que aconteceu ali foi um misto de cansaço, com a existência de equipes pequenas, trabalhando sobre coisas muito complexas. Para mim, faltou um leitor externo que pedisse aos pesquisadores mais certeza sobre suas conclusões — ponderou ela: — Se eu ainda estivesse na presidência do instituto, sendo mulher e bisbilhoteira como sou, teria me trancado numa sala com esse trabalho e duvidado dele. A gente tem que desconfiar sempre das pesquisas, mesmo quando elas vêm de instituições sérias. Agora, acho importante refazermos um levantamento sobre violência contra a mulher. Ainda temos 26% de pessoas que acham que mulher que mostra o corpo merece ser estuprada. Ainda é um dado ruim.
O sociólogo Simon Schwartzman, que foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1994 e 1998, destacou, por sua vez, a importância de o Ipea reconhecer publicamente sua falha:
— É importante que o instituto venha a público corrigir seu erro. Isso é para elogiar. Mas tem uma outra questão no ar: o instituto é da área econômica, e o tema da pesquisa é das ciências sociais. Isso quer dizer que o pessoal do Ipea não estava dentro da competência deles. Talvez tenham entrado num campo que não dominam muito bem.
Já o economista Sérgio Besserman, que também presidiu o IBGE, não acredita que o erro afete a imagem do Ipea. Para ele, o importante é reconhecer o erro com transparência e aproveitar a oportunidade para rever protocolos internos. Besserman explicou que, diferentemente do Ipea, os institutos que trabalham com pesquisa primária, como o IBGE, adotam procedimentos críticos antes de divulgar resultados. Ele lembra, porém, que, como o Ipea faz pesquisa analíticas, impor o mesmo cuidado ao órgão poderia ser interpretado como censura. Mesmo assim, a falha pode servir à criação de procedimentos que aumentem a segurança dos resultados. (Colaborou: Chico Otavio)
Um comentário:
Realmente, foi um erro grotesco. Mas a campanha é totalmente válida e essa discussão sobre o papel da mulher na sociedade também, no sentido de "educar" essa porcentagem, ao meu ver alta, de machistas e sexistas de plantão que acham que a mulher é um ser para viver segregada ao espaço privado.
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