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Disney, o diplomata de Roosevelt

Disney, o diplomata de Roosevelt

Tribuna do Norte, 13 de Setembro de 2009


Los Angeles (AE) - A política, o cinema e o folclore latino-americano convergem no documentário “Walt & El grupo”, que destaca as viagens que Walt Disney fez em 1941 por países como Brasil, Argentina e Chile como enviado do então presidente Franklin Delano Roosevelt. O criador de clássicos da animação como “A Bela Adormecida” e “Pinóquio”, além de 16 de seus funcionários mais próximos, visitaram quase toda a América Latina numa missão diplomática da política de boa vizinhança de Roosevelt.

Dirigido por Theo Thomas, “Walt & El Grupo” estreou na quarta-feira em Anaheim, Califórnia, onde fica a Disneylândia, e na sexta-feira começou a ser apresentado em cinemas de Los Angeles, Nova York, Seattle, Washington, San Francisco e Orlando.

A produção de quase duas horas inclui entrevistas com historiadores, jornalistas e familiares de pessoas com as quais Disney teve contado e expõe como as anotações, investigações e desenhos da primeira viagem de dez semanas resultaram no filme “Alô, Amigos” de 1942, enquanto que outra viagem de duas semanas pelo México resultou no filme “Você já foi à Bahia?” (cujo título original é “The Three Caballeros”), de 1944.

Embora as viagens de Disney tenham sido esforços político de Roosevelt para conquistar aliados para a Segunda Guerra Mundial, elas também permitiram que o diretor e empresário mostrasse a cultura e o folclore latino-americanos nos dois filmes de animação. No Brasil, Disney reuniu-se com Ary Barroso, o criador de “Aquarela do Brasil”, e foi recebido pelo presidente Getúlio Vargas. Na escala seguinte, na Argentina, ele dançou chacarera com integrantes do grupo de dança do patriarca do folclore argentino, Andrés Chazarreta, no terraço de um hotel de Buenos Aires, onde se vestiu de gaúcho, mostra o documentário.

Embora durante esse tempo tenha havido outros “emissários culturais” que viajaram para a América Latina a pedido do governo dos Estados Unidos, como os atores Errol Flynn e Douglas Fairbanks Jr., a cantora de ópera Grace Moore, o diretor de orquestra. Leopold Stokowski e o cineasta Orson Welles, Disney se destaca “por sua preparação prévia para as viagens e por mostrar um interesse genuíno pelos países”, disse o diretor do documentário em entrevista recente.

Durante sua visita a uma escola na província argentina de Mendoza, Disney entrou plantando bananeira num auditório repleto de estudantes que esperavam um “convidado muito especial” cuja identidade desconheciam, disse Thomas. “E logo que ficou sobre os pés. disse ‘olá, meninos’, para a surpresa de todos”, disse o diretor, cujo trabalho integra de maneira dinâmica fotografias, vídeo e animação em cores e preto e branco.

Os narradores de histórias, câmeras, animadores e desenhistas que acompanharam Disney ficaram conhecidos como “o grupo” no Rio de Janeiro, quando os mensageiros chamaram “Disney e o grupo” aos salões do hotel onde se hospedaram. A viagem ocorreu em meio a uma greve de trabalhadores de seu estúdio, resultado de problemas financeiros três anos depois do êxito de “Branca de Neve”. Disney considerou a ideia de ter um estúdio de produção na Argentina, disse Thomas, mas a greve foi encerrada enquanto o grupo estava na América do Sul.

Nesta época, a empresa trabalhava nos desenhos “Pinóquio” e “Fantasia” e Disney compareceu à estreia do filme protagonizado por Mickey Mouse em Montevidéu. O empresário também esteve no Peru em sua primeira viagem, além de visitar a Bolívia, a Guatemala e o México, segundo Thomas.

“Alô, Amigos” e “Você já foi à Bahia?”, inspirado numa segunda viagem ao México não incluída no documentário, receberam, respectivamente duas e três indicações para o Oscar. Um terceiro filme teve sua produção iniciada, mas não foi concluído.

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