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20 anos de 'Nevermind'


Amigos,

Eu ia publicar hoje minha experiência da ida ao cinema para ver Conan - O Bárbaro, mas, achei que deveria publicar primeiro esta entrevista feita com os integrantes do falecido Nirvana, por conta da passagem dos 20 anos do álbum 'Nevermind' que realmente acredito ter sido um marco do Rock. Observem a passagem da entrevista em que Novoselic fala sobre a "cooptação da revolução"... De todo modo, volto a insistir aqui na recomendação de leitura do livro 'Like a Rolling Stone' de Greil Marcus - essencial para quem quiser discutir a relação entre música e história e para a compreensão do contexto estadunidense das décadas de 1960 e 1970.


Dave Grohl, Krist Novoselic e Butch Vig falam sobre os 20 anos de 'Nevermind', do Nirvana

Publicado em O Globo - 21/09/2011


LOS ANGELES - No próximo sábado, "Nevermind", do Nirvana, completa 20 anos cheio de hinos como "Smells like teen spirit" e "Come as you are", que marcaram o começo da explosão do rock alternativo da década de 90. Aquele conjunto de canções transformou o baterista Dave Grohl, o baixista Krist Novoselic e o cantor e guitarrista Kurt Cobain em portavozes da chamada geração X, até o suicídio de Cobain, em 1994. Em uma noite dessas, dentro do mesmo 606 Studio onde "Nevermind" foi gravado, Grohl e Novoselic se reuniram ao produtor Butch Vig e conversaram sobre como eles fizeram o disco que mudou suas vidas e a história da música pop para sempre.

Qual foi o momento em que vocês perceberam que "Nevermind" havia se tornado maior que vocês?

Grohl: Eu diria: 'Saturday night live'. Ser convidado para participar do SNL foi, sem dúvidas, este momento para mim. Foi quando eu pensei: 'Oh, meu Deus, nós somos uma DAQUELAS bandas agora'. Então, no camarim, "Weird Al" Yankovic ligou e perguntou se poderia fazer uma paródia de "Smells like teen spirit". Foi um fim de semana muito estranho. Este foi o momento para mim.

Novoselic: Foi chocante ficar famoso. E lá estava Kurt, que foi designado o portavoz de uma geração. Isso foi muito duro para ele. Ele tinha algumas questões pessoais acontecendo tão rápido quanto a banda. Ele estava em um redemoinho. Kurt não necessariamente se identificava com a Geração X ou os valores do "mainstream".

Como é ouvir "Nevermind" depois de todos esses anos?

Vig: Ele ainda está por aí. É onipresente, mas essa é a primeira vez que ouço o disco com uma perspectiva crítica. As remasterizações soam ótimas e o álbum se comporta muito bem. É atemporal. Acho que parte disso se deve às canções, que são muito boas. A produção não soa falsa. É apenas baixo, bateria e guitarra. Não há nenhum tipo de som da moda.

Grohl: "Nevermind" representa mais do que apenas um disco cheio de músicas para mim. Marca uma passagem específica e muito empolgante da minha vida. Pessoalmente, minha vida mudou com o lançamento daquele álbum. Toda minha vida se define pré-"Nevermind" e pós-"Nevermind". Quando o disco saiu, meu mundo mudou completamente. Havia algo de inocência naquilo tudo.

Como vocês acham que a música mudou desde o lançamento de "Nevermind"?

Grohl: Honestamente, se você olhar o que estava acontecendo lá atrás... tirando a tecnologia, todas essas coisas estúpidas continuam acontecendo. Você ainda tem programas idiotas de TV para fazer as pessoas famosas para que elas vendam discos. O top 10 continua cheio de porcarias. É a mesma bosta. Você ainda tem todas essas bandas tentando fazer acontecer em algum lugar.

Vig: Com a informação se movendo tão rápido, o mundo todo tem DDA. Você agarra uma coisa apenas por um segundo antes de descartá-la. Quando "Nevermind" aconteceu, ainda estávamos em um tempo mais devagar. Aquilo tudo realmente aconteceu a partir de um nível de base. A gravadora prensou algo em torno de 40 mil cópias, mas o boca a boca foi mais ágil do que o marketing da Geffen poderia prever.

Como vocês se sentem sobre o impacto de "Nevermind", não só na música, como na cultura?

Grohl: Eu tenho essa válvula de bloqueio. Quando eu estou em um lugar e começo a perceber o impacto do álbum, eu simplesmente desligo porque é difícil imaginar que algo tão inocente e simples tenha fugido ao nosso controle. Acho que "Nevermind" veio em um momento em que um monte de jovens não tinha nada em que acreditar e o Nirvana era inteiramente real.

Novoselic: Lembro de quando o Nirvana estava despontando e nós continuávamos muito idealistas sobre tudo. 'Sim, nós vamos mudar o mundo!'. Era como se eu estivesse ouvindo punk rock ou mesmo hard rock pela primeira vez. Mas, mais uma vez, a revolução foi cooptada e nunca veio da maneira que você pensou que ela viria.

Se houvesse um rasgo no continuum espaço-tempo, vocês acham que poderiam ter feito "Nevermind" hoje?

Vig: Não acho que soaria do mesmo jeito. Tem um sentimento no disco que você não pode manipular. Hoje eu amo computadores, mover os sons e mexer com eles. Acho que a tecnologia, de alguma forma, atrapalharia a gravação do tipo de disco que nós queríamos fazer. E eu sei que não faria melhor. É impossível imaginar aquilo acontecendo agora.

Grohl: Com a tecnologia dos nossos dias, nós poderíamos ser uma dessas bandas que gravam por conta própria em uma garagem, sobem os vídeos para o YouTube e contornam as rotas convencionais da indústria. Quem sabe? Eu sei que se eu e Krist estivéssemos naquela cabine agora e gravássemos daquele jeito, nós poderíamos soar exatamente os mesmos. É simplesmente como a coisa toda aconteceu.


Um comentário:

Renan Ramalho disse...

pow, disco e tanto. curti o trecho "Com a informação se movendo tão rápido, o mundo todo tem DDA. Você agarra uma coisa apenas por um segundo antes de descartá-la. Quando "Nevermind" aconteceu, ainda estávamos em um tempo mais devagar". interessante pensar essas percepções.

Renan Ramalho