Translate

DULCE ET DECORUM EST

Amigos,

O título d
o poema abaixo é DULCE ET DECORUM EST e foi escrito por Wilfred Edward Salter Owen, tenente inglês que morreu em combate nos últimos dias da Primeira Guerra Mundial. O título do poema, em latim, faz referência a uma frase de Horácio, DULCE ET DECORUM EST PRO PATRIA MORI, muito utilizada pela imprensa e pelos exércitos europeus daqueles tempos. No poema Owen narra uma experiência real, um ataque com Gás Mostarda sofrido pela sua unidade. Em uma carta para sua mãe, datada de Agosto de 1917, Owen escreveu: "Here is a gas poem, done yesterday". (1)

Em minha tradução procurei deixar bem claras as intenções do autor, o que me desviou, algumas vezes, do sentido exato das frases e palavras em inglês.

As gravuras são do alemão Otto Dix, (outro combatente da Primeira Guerra), respectivamente, Battle weary troops retreating - Battle of the Somme [Abgekampfte Truppe geht zuruck - Sommeschlacht]; Wounded soldier - Autumn 1916, Bapaume [Verwundeter - Herbst 1916, Bapaume]. Clique sobre as gravuras para aumentá-las ou vê-las separadamente.





É DOCE E HONROSO [DULCE ET DECORUM EST] (2)


Wilfred Owen (tradução de Renato Amado Peixoto)

Encolhidos, como velhos mendigos debaixo de sacos,
Cambaleando como bêbados, tossindo feito velhas, nós ziguezagueamos em meio ao lamaçal,
Até que a luz bruxuleante dos sinalizadores nos fizesse virar
E, para a distante retaguarda, começar a caminhada.



Homens marchavam adormecidos. Muitos tinham perdido suas botas
Mas tropeçavam, calçados de sangue. Todos estavam alquebrados; todos cegos;
Bêbados de fadiga; não escutavam nem mesmo o rugido
Dos desinteressantes obuses que, fora de alcance, explodiam atrás.


Gás! Gás! Rápido, amigos! - A euforia de conseguir ajustar, atabalhoadamente, aquelas máscaras desajeitadas, na hora exata;
Mas alguém urrava e caindo,
Debatia-se como se estivesse em chamas ou sob cal viva...
Embaçado, através das enevoadas lentes da máscara e de uma grossa luz verde;
Como se estivesse debaixo de um mar verde, eu o vi se afogar.

Em todos os meus sonhos, diante de meus olhos impotentes,
Ele mergulha sobre mim, sorvendo o ar, asfixiando, afogando.


Se em algum sonho sufocante você também pudesse passar
Por detrás da carroça em que nós o arremessamos.
E observar os olhos brancos contorcidos em sua face,

Seu rosto pendurado, como o de um demônio cansado de pecar;

Se você pudesse ouvir, a cada solavanco, o sangue
Gargarejar dos seus pulmões corrompidos em espumas,
Obscenas como câncer, amargas e esverdeadas como a regurgitação de um boi
Infames, incuráveis feridas sobre línguas inocentes, 

Meu amigo, você não iria, com tão grande entusiasmo e idealismo, contar
Para as crianças desejosas de algumas glórias desesperadas,
A velha Mentira: É doce e honroso
Morrer pela pátria.


_______________________________________________________________

Notas:

(1) Blunden, Edmund (Org). The collected poems of Wilfred Owen. New York: New Directions Publishing, 1965, p. 56.
(2) Blunden, Edmund (Org). The collected poems of Wilfred Owen. New York: New Directions Publishing, 1965, p. 55.




2 comentários:

Poesia&Partitura disse...

Poema revelador das consequencias ásperas do nacionalismo.

Patrícia Morais disse...

Putz, sem exagero, me arrepiei com a estrofe final. Muito bom esse poema.
Dá pra casar com ''o fardo do nosso tempo'', de Kipling, já que imperialismo e nacionalismo andam de mãos dadas e usam, com as devidas ressalvas, materiais semelhantes em suas respectivas construções.